Localização : Minas Gerais, Brasil

 Ano : 2024 

 Autores : Henrique Coelho e Rosália Martins.

O projeto da Boavista, implantado em um terreno com declive acentuado no centro-oeste mineiro, adota uma abordagem projetual que transforma as limitações topográficas em um ativo conceitual e funcional. A inclinação natural do terreno não é encarada como obstáculo, mas como premissa estruturante da proposta arquitetônica, definindo o partido em estreita relação com a paisagem e o contexto urbano. A configuração do terreno propicia não apenas uma vista panorâmica singular, como também contribui para a hierarquização dos usos e a setorização eficiente dos espaços.

A concepção do projeto parte de uma malha modular de 60×60, que organiza e racionaliza a implantação dos volumes, garantindo precisão geométrica, facilidade de execução e flexibilidade para expansões futuras. Essa malha atua como instrumento de controle formal e espacial, permitindo que os volumes se adaptem ao terreno em cortes suaves e encaixes naturais, minimizando movimentações de terra e interferências agressivas na topografia original.

O programa se distribui em dois volumes principais, de geometria simples e rigorosa, porém articulados de maneira estratégica: um volume inferior, semienterrado, abriga as áreas de apoio (sanitários, cozinha, vestiários e bares), favorecendo o conforto térmico passivo e a estabilidade estrutural; o outro, em nível superior e parcialmente suspenso, concentra o espaço de convivência, socialização e torcida. Essa organização cria uma dinâmica vertical que valoriza a experiência do usuário, conduzindo-o por meio de percursos fluidos e acessíveis, com rampas e degraus integrados que acompanham o declive natural.

A arena de esportes de areia, implantada no ponto mais baixo do terreno, torna-se o elemento cenográfico central do conjunto, emoldurada pelo relevo e pelos volumes construídos. A borda da arquibancada se funde com o platô existente, criando uma continuidade visual e física entre arquitetura e paisagem. A transparência parcial das fachadas, os vazios estrategicamente posicionados e o uso de materiais locais — como madeira, pedra e estruturas metálicas leves — reforçam a intenção de leveza e integração com o entorno.