O anúncio do Instituto Nacional de Estatística (INE) de uma subida homóloga de 17,2% nos preços das casas no segundo trimestre de 2025 é mais do que um dado estatístico. É a confirmação de uma trajectória que é notória há alguns anos: a transformação de Portugal num destino de investimento de primeira linha na Europa.
Não é um surto de febre especulativa, mas sim o reflexo de fundamentos económicos sólidos que merecem uma leitura mais atenta e optimista.
Acredito , na verdade, que o valor mais interessante deste número está no diferencial positivo que Portugal apresenta face aos seus pares europeus. É esse diferencial que sinaliza força real e abre janelas de oportunidade para investidores bem informados.
A minha interpretação assenta em três pilares que distinguem este ciclo de outros momentos de euforia:
- Procura Sustentada por Agentes Reais: O mercado não está a valorizar no vazio. Dados do Banco de Portugal referentes ao primeiro semestre de 2025 mostram que “o crédito à habitação para famílias manteve uma trajectória de crescimento sólida, sustentada por rendimentos e condições de emprego favoráveis”. Isto significa que há compradores nacionais e internacionais, com capacidade financeira, a sustentar os preços.
- Confiança Estratégica do Capital Internacional: Portugal tornou-se um refúgio seguro. De acordo com um relatório recente da Savills, “o peso do investimento internacional no mercado imobiliário residencial de luxo em Lisboa aproxima-se dos 60%, um sinal claro da atractividade global do país”. Num continente com incertezas, o capital vê em Portugal uma combinação rara de estabilidade e potencial.
- Melhoramentos Estruturais Tangíveis: O país investiu na sua atractividade. A melhoria das infraestruturas, a consolidação do sector tecnológico – com Lisboa a ser regularmente destacada em relatórios como o da Startup Blink como um dos principais hubs de inovação da Europa – e uma marca turística forte criaram um ambiente propício para residentes e empresas.
Portugal no Espelho Europeu: Uma Sobreperformance Inegável
Colocar os 17,2% em contexto é crucial. Enquanto a média da UE se situava nos 5-5,7% no primeiro trimestre de 2025 (Eurostat), Portugal não só duplica este valor como se destaca mesmo face a outros países do Sul da Europa, igualmente dinâmicos. Um artigo do El Economista sobre o mercado espanhol, que cresceu a um ritmo robusto de ~10%, atribui parte do sucesso ibérico ao “efeito arrasto da procura internacional que também elegeu Portugal como destino preferencial”.
Esta sobreperformance não é um acidente. É o resultado directo dos factores já mencionados. Países como a Alemanha ou a França, com mercados maduros e crescimentos modestos (0-4%), confirmam que o dinamismo português é um caso à parte no panorama europeu.
Onde Estão as Oportunidades? Estratégias para o Investidor Informado
Num mercado em forte aceleração, a chave é a estratégia. Identifico oportunidades claras:
- Reabilitação Urbana com Valor Acrescentado: Bairros históricos como Misericórdia em Lisboa ou Miragaia no Porto continuam a oferecer margem para projectos de reabilitação de qualidade que respondam à procura por parte de profissionais internacionais. A Confidencial Imobiliário destacou recentemente que “a valorização em projectos de reabilitação premium em centros urbanos pode superar a média do mercado em 5 a 8 pontos percentuais anuais”.
- “Periferia Conectada”: Áreas bem servidas por transportes, como Cascais e Sintra ou os concelhos limítrofes ao Porto, oferecem yields mais atractivos e potencial de valorização à medida que a procura se expande dos centros saturados.
- Diversificação por Tipologia e Geografia: Combinar um apartamento para arrendamento de longa duração no Porto com um activo turístico no Algarve permite captar diferentes fluxos de rendimento e mitigar riscos sectoriais.

Riscos? Sim, mas a Estratégia é a Resposta
Seria irresponsável ignorar os desafios. A acessibilidade para os portugueses é a grande questão social deste boom. No entanto, vejo estes riscos como gestíveis com uma abordagem criteriosa. A localização correcta, a qualidade do imóvel e parcerias com gestores experientes são antídotos poderosos. Além disso, como noticiou o Jornal de Negócios, “o novo pacote legislativo ‘Mais Habitação’ prevê incentivos fiscais para a construção nova, o que poderá aliviar progressivamente a pressão sobre o mercado”.
Conclusão: Uma Aposta Estruturada no Futuro
O valor de 17,2% do INE é a fotografia de um país que soube capitalizar os seus activos intangíveis – qualidade de vida, segurança, marca – e convertê-los em atractividade económica tangível.
Para o investidor, o mercado imobiliário português oferece uma rara combinação: crescimento de capital acima da média europeia, rendimento corrente robusto e a segurança de um activo real num país com fundamentos sólidos. O momento, na minha opinião, é de convicção estratégica, não de euforia. Quem entrar com uma visão de médio prazo e critérios rigorosos, estará a apostar não num mero imóvel, mas no contínuo reposicionamento de Portugal no mapa global.