Um edifício que divide Belém.

O Museu Nacional dos Coches do arquiteto brasileiro Paulo Mendes da Rocha em parceria com o ateliê Ricardo Bak Gordon é um edifícios que desafia o olhar e inevitavelmente divide opiniões. Fica localizado no bairro de Belém, um dos mais emblemáticos e históricos de Lisboa, ele não tenta se camuflar entre o estilo pombalino ou a arquitetura clássica que molda a paisagem ribeirinha ao tejo. Ao contrário, ergue-se como uma espécie de manifesto em concreto armado e aço, um gesto de modernidade que nos revela que a cidade também pertence ao presente.

O museu é um bloco austero, de grandes vãos e linhas limpas, que aposta no concreto aparente como material primordial. A escolha não estética, é quase ideológica. Mendes da Rocha sempre acreditou que a arquitetura é um espaço de encontro coletivo e aqui o betão exposto carrega uma honestidade brutal, sem ornamentos, deixando à vista a própria essência da construção. O jogo de cheios e vazios, a monumentalidade das vigas, a leveza das passarelas suspensas e a luz que invade os interiores criam um ambiente ao mesmo tempo sobrio e despojado, um paradoxo que só um mestre do modernismo saberia equilibrar.

Mas é justamente essa ousadia que incomoda muita gente em Lisboa. Em meio a palácios, igrejas barrocas e azulejos centenários, o Museu dos Coches parece um estrangeiro( e talvez realmente seja) . Para alguns é uma afronta, um bloco cinzento que desrespeita a delicadeza do entorno, um corpo estranho que não dialoga com o passado. Para outros é uma afirmação de que Lisboa não precisa viver eternamente como uma cidade-museu, congelada no tempo. O edifício é quase uma metáfora da própria cidade, em conflito, em movimento, feita de camadas que nem sempre se encaixam mas que convivem mesmo que em tensão.

Gostar ou não do Museu dos Coches é no fim das contas menos importante do que reconhecer a força do gesto. Mendes da Rocha não quis fazer um edifício no sentido tradicional, tampouco uma extensão que imitasse a história. Ele ofereceu a Lisboa uma peça de arquitetura com opinião, que obriga a pensar sobre o que queremos preservar, o que estamos dispostos a mudar e como a cidade do futuro dialoga com a memória do passado. Amar ou odiar, nesse caso, é quase prova de que a obra cumpriu seu papel.

Para saber mais sobre o edificio acesse https://www.archdaily.com.br/br/767363/museu-dos-coches-paulo-mendes-da-rocha-mmbb-arquitetos-bak-gordon-arquitectos e https://www.publico.pt/2015/05/22/culturaipsilon/noticia/este-museu-nao-podia-ser-desenhado-por-um-arquitecto-europeu-1696361 .

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Henrique Coelho

Real Estate and Design
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